Léxico: Lexemas passe-partout, repetições, diminutivos
Texto de Vera Ferreira (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 09.01.06. Para mais informações consultar seminário - 09.01.06 em portuguesfalado.com.sapo.pt)
A língua como espelho da riqueza histórica e socio-cultural de um País. Áreas críticas, vicissitudes, plasticidade e variedade Nacional e regional da Língua Portuguesa.
Bem-vindo ao Blog Falares de Portugal!
Welcome to Falares de Portugal!
Willkommen bei Falares de Portugal!
Tempo é uma categoria gramatical, mais concretamente uma categoria verbal nas línguas românicas, que caracteriza e localiza, numa linha temporal, a relação entre o momento de fala e os acontecimentos nele relatados. De acordo com Celso Cunha e Lindley Cintra tempo “é a variação que indica o momento em que se dá o facto expresso pelo verbo” (1999: 379). Essa organização temporal dos acontecimentos, tendo como ponto de referência o momento da enunciação, ocorre em três domínios distintos:
É neste sentido que se pode falar de uma relação de anterioridade, simultaneidade ou posterioridade relativamente ao momento de fala ou ao momento dos acontecimentos enunciados. As línguas que marcam distintamente estes três domínios conceptuais no seu sistema verbal, como é o caso do português, diz-se possuírem um sistema verbal tripartido.
Antes de passar concretamente ao sistema verbal do português falado, é necessário realçar dois aspectos teóricos importantes: o conceito de temporalidade e a abordagem coseriana do sistema verbal românico.
Enquanto que tempo é uma categoria verbal, com características morfológicas específicas, temporalidade diz respeito a todos os mecanismos de que uma língua se serve, para além dos verbais, para estabelecer a organização e localização temporal dos acontecimentos, como por exemplo advérbios (hoje, amanhã, ontem), substantivos integrados em grupos preposicionais que funcionem como advérbios (hora, dia, semana, mês, século), adjectivos (antigo, novo, actual, moderno), etc..
Na obra Das romanische Verbalsystem (1976) Eugenio Coseriu aborda directamente a questão da organização dos factos enunciados no eixo temporal, distinguindo dois níveis:
O português apresenta um sistema verbal bastante complexo, constituído por três modos (indicativo, conjuntivo e imperativo) subdivididos em vários tempos, simples e compostos, cada um deles com significados centrais (prototípicos) e significados periféricos.:
Para Coseriu, o português é a língua românica que, na sua concretização, melhor exemplifica o modelo por ele apresentado para o sistema verbal românico. Contudo, segundo o estudo elaborado por Tlaskal (1984: “Observações sobre tempos e modos em português”), comprovado também no trabalho de Sabine Eckhoff em 1983 (Die Ausdrücksmöglichkeiten des Futurs in der brasilianischen Gegenwartssprache anhand von Film- und Bühnentexten, tese de final de curso inédita), os significados centrais e periféricos dos tempos verbais do português sofreram (e estão a sofrer) alterações no português falado. Desta forma, assiste-se a uma simplificação do sistema temporal (no indicativo), sendo o mesmo reduzido a apenas três tempos verbais, afastando-se na prática do modelo defendido por Coseriu:
[Tlaskal, Jaromír Jr. (1984). “Observações sobre tempos e modos em português”, p. 254]
Esta redução, impulsionada pela já elevada frequência dos tempos em causa no português, vai ao encontro dos princípios de simplificação e economia de esforço linguístico e implica um alargamento das funcionalidades dos três tempos verbais, que se tornam mais abrangentes nos contextos de emprego e, consequentemente, menos específicos.
Texto de Vera Ferreira (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 19.12.05. Para mais informações consultar seminário - 19.12.05 em portuguesfalado.com.sapo.pt)
Parataxe e hipotaxe são duas formas de organização sintáctica. Enquanto que a parataxe indica a ligação de frases com mesmo valor sintáctico por meio de coordenação (para isso são usadas as conjunções coordenativas), a hipotaxe indica a ligação de frases por meio de subordinação. A dependência de uma oração em relação à outra é marcada por conjunções ou pronomes relativos.
Dentro do grupo das conjunções coordenativas temos por exemplo as conjunções copulativas (e, não só...mas também, nem, nem...nem, quer...quer), conjunções adversativas (mas, mas sim, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto) e conjunções disjuntivas (ou, ou então, ou não, ou...ou, ora...ora, já...já).
No grupo da conjunções subordinativas existem conjunções temporais (quando, depois que, antes que), condicionais (se), causais (porque), consecutivas (de maneira que), finais (para que), concessivas (apesar de que) e modais (como).
No que se refere ao português falado, a parataxe e a hipotaxe têm sido colocadas um pouco à margem da investigação. Existem, no entanto, dois estudos que examinam o uso de construções paratácticas e hipotácticas neste domínio do português. Um desses estudos foi elaborado pela Universidade Estadual de Maringá (Paraná, Brasil), para o qual se construiu um corpus [Sobre a construção deste corpus veja-se:
http://www.unicentro.br/editora/revistas/guairaca/17/artigo%201%20diferenças%20linguisticas.pdf]. Da análise do corpus em causa concluiu-se que as formas mais simples de junção de orações têm maior frequência na modalidade oral do que na escrita, ao passo que com as formas mais complexas de junção de orações se verifica o contrário. Ou seja, a hipotaxe tem maior frequência na modalidade escrita do que na oral. O outro estudo, realizado por Isabel Trancoso em Lisboa, teve um resultado semelhante: “Como esperado, ocorrem nos diálogos já gravados fenómenos e construções tidos como recorrentes no diálogo espontâneo: [...] o recuo de construções hipotácticas em favor de parataxe.” [in: www.l2f.inesc-id.pt/documents/papers/Trancoso98b.pdf]
Na gramática portuguesa, de acordo com Gärtner (1994), as orações subordinadas são classificadas tendo em conta a não só a classe de palavras que substituem mas também a função sintáctica que exercem na frase. Desta forma, existem orações substantivas, adjectivas e adverbiais.
As orações substantivas subdividem-se em:
As orações adjectivas, apresentadas noutros estudos como orações relativas, subdividem-se em:
Na perspectiva de Mira Mateus et al. (1989), as orações relativas, pertencendo ao grupo de orações de tipo subordinado, usam conjunções restritivas (Vi o homem que roubou a tua carteira.), apositivas (O António, que encontrei ontem, regressou do estrangeiro.) ou podem ser construídas sem antecedente (Quem vai ao mar perde o lugar.).
Como exposto em cima, as orações condicionais são também elas construções de tipo hipotáctico. Mira Mateus et al.(1990), fez uma abordagem deste tipo de orações subdividindo-as em:
Alguns exemplos do Corpus de Referência do Português Contemporâneo (CRPC) indicam que na língua falada e numa esfera linguística de proximidade se usam construções condicionais que não são, na perspectiva da gramática prescritiva, gramaticalmente correctas (Se eu não os obrigo a sair certamente morriam lá em vez de Se eu não os tivesse obrigado a sair certamente teriam morrido lá); têm, no entanto, presença na língua falada e devem por isso ser valorizadas e analisadas como fenómenos linguísticos e não apenas “marginalizadas” como erros.
Segundo um outro exemplo do CRPC usam-se na língua falada muitas construções paratácticas e, em geral, as construções hipotácticas que se encontram são simples, muitas vezes construídas com a conjunção porque.
Texto de Andreas Riess (Protocolo do seminário "Português Falado", do dia 28.11.05. Para mais informações consultar seminário - 28.11.05 em portuguesfalado.com.sapo.pt)